NENHUM POR TODOS E TODOS POR ALGUNS
Não são demissões em massa ou a desvalorização da moeda, tampouco a alta tributação que evidenciam a crise, a crise é institucional e o que a evidência não é um evento e sim a discrepância entre a minoria com maior poder econômico e a maioria miserável.
A recessão vivida no cenário econômico brasileiro neste momento de forma alguma é fruto de uma política isolada, são ações conjuntas decisivamente influenciadas pelo poder econômico que trazem esta realidade a mota e assim gera uma insatisfação social veemente. Apesar da amplitude da comoção pública, esta parece fragmentada, não percebendo os reais motivos que a enseja. Enquanto as grandes fortunas não forem tributadas a grande parcela da população vai continuar proporcionalmente pagando mais impostos que os ricos: a progressividade do IR só alcança a classe média, enquanto os multimilionários continuam incólumes.
O cenário favorece os poucos que possuem capital a oferecer como aporte, os cofres públicos remuneram através da receita tributária, o chamado superavit primário, os juros de uma dívida crescente que alimenta uma fração de pessoas através de suas engrenagens enferrujadas mantidas pela legalidade, nunca pela moralidade.
Abaixo segue o exemplo de um título do tesouro direto que rende uma taxa fixa e mais a variação do IPCA.
Título |
Taxa % a.a. |
Preço Unitário Dia |
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Compra |
Venda |
Compra |
Venda |
Tesouro IPCA+ 2019 (NTNB Princ) 7,49 7,53 R$2.065,40 R$2.062,60
https://www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro-direto-precos-e-taxas-dos-titulos
O cidadão comum não possui capital para investir, logo, este sistema de títulos favorece apenas aos abastados. O problema é que com a remuneração feita pelos cofres públicos aos investidores poderia ser feito o atendimento de carências em áreas como saúde, educação e mobilidade urbana.
Quando quitamos a famosa dívida externa com o fundo monetário internacional, saímos de uma dívida que nos custava 4% ao ano para então emitirmos títulos da dívida pública criando assim uma dívida interna rentável ao investidor e danosa ao povo.
A realidade que vivemos no país é uma realidade de exploração, onde se exige muita dos que contribuem com a maior carga horária de trabalho por uma remuneração pífia e pouco dos acumuladores de capital que se encontram pagando a mesma alíquota de tributos em produtos que a classe trabalhadora, o que não é razoável.
Pelo volume de riquezas geradas pelo país é desnecessária a criação da dívida pública, parece intencional, motivada pelos mesmos que lucram com a sua manutenção. A crise não se mostra através de episódios de instabilidade institucional econômica e financeira, mas pela realidade vivida dia a dia dos que sabem o quão duro é viver e pagar tantos impostos, taxas e contribuições enquanto uma minoria é favorecida por um sistema imoral que arranca dos pobres e dá aos ricos.
Por Thiago Monteiro